O dólar alcançou R$ 6,1155 no mercado à vista na manhã desta sexta-feira (29), registrando uma alta de 2,10%. A valorização reflete o clima de tensão no mercado financeiro em relação ao pacote fiscal anunciado pelo governo, somado ao temor de que o câmbio elevado pressione ainda mais a inflação.
Segundo Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o principal fator por trás do estresse no mercado de câmbio é o conjunto de medidas divulgadas na quinta-feira, especialmente a proposta de desoneração do Imposto de Renda (IR).
"A proposta desvia o foco da contenção de gastos e deve enfrentar resistências no Congresso", avaliou Velloni, destacando que a elevação do IR para super-ricos, parte do pacote, poderá ser enfraquecida ou rejeitada por parlamentares da oposição.
A estimativa de arrecadação com a taxação dos mais ricos, de acordo com o economista, é inferior ao custo da isenção de IR para rendimentos de até R$ 5 mil, o que agrava o cenário fiscal.
Além disso, o impacto do dólar alto na inflação, combinado com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, deve pressionar os juros futuros. "O mercado já aposta em uma Selic próxima a 15% no final do atual ciclo de aperto monetário",completou Velloni.
No ambiente externo, a desaceleração econômica da China e incertezas políticas nos Estados Unidos também afastam investidores estrangeiros, reduzindo a liquidez do mercado de câmbio brasileiro, mesmo diante do alto diferencial de juros entre o Brasil e outros países.
Outro fator que contribui para a volatilidade do dólar nesta sexta-feira é a disputa pela última taxa Ptax do mês. Essa taxa, usada como referência para a liquidação de contratos futuros, intensifica a pressão dos investidores comprados na moeda norte-americana.
Enquanto o mercado monitora os desdobramentos fiscais e internacionais, a trajetória do dólar segue como um ponto crítico para a economia brasileira, afetando tanto os preços internos quanto as expectativas de crescimento.